segunda-feira, 17 de março de 2008

[...]

Dizem que ele é abençoado. Que gosta de samba, bunda e caipirinha. Que é ainda machista. Ou racista. Ou contraditório: é miscigenado. Que é acomodado. Mas que força um sinônimo e se denomina Pacato. Que adora Copa, odeia Política e que ri quando tudo vai mal. Diz-se otimista...

É aquele aluno, do fundão...que de alguma forma sempre esquece de fazer a lição, mas como é malandro, abre um sorriso, conquista o professor e leva o ano com a barriga. Também é aquele que do seu casebre, clama por todos os santos. Ora, o Flamengo só precisava de um gol para ser campeão.

Diz ser um trabalhador. Fazer nove filhos não é para qualquer um. Todos trabalham. E todos são menores de catorze.
É aquele que vota. E também é aquele que não saber ler.
Diz ser religioso. É aquele que roga por Nossa Senhora dos Feriados. E que acha que não beber numa sexta-feira é pecado.
É um mentecapto.
Um brasileiro.

[...]

A imagem acima veio como uma flecha em minha mente. Estava assistindo alguma propaganda governamental. Nunca vi plantações mais vívidas, agricultores mais contentes e obras magníficas. A água do poço artesiano brilhava na tela de vinte polegadas. Mas atentem! Não era só água. Era esperança. Era felicidade, uma vida nova! Era politicagem mascarada por um delicioso ufanismo.

Senti repulsa, vergonha e raiva... Tinha que expurgar de alguma forma. Traços rápidos num papel sulfite me libertaram um pouco. Mas não diminuiu minha culpa e se me permite, nossa culpa. Porque eu estou aqui só escrevendo e você está aí, só lendo. Porque a cada dia esquecemos o significado de atitude e aprendemos cada vez mais o significado de comportamento. E porque, sinceramente, já não vejo a beleza de ser brasileira.


Por Luana R.