segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mass Effect - Ashley Williams

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Atenção: Esse texto contém informações do histórico da personagem.

Esse é um daqueles textos que eu simplesmente podia ignorar. Mas, como fiz no post de Isabela, resolvi escrever um pouco minhas impressões sobre a personagem. De.novo.
Eu gosto de Ashley. Na verdade, esse sentimento foi crescendo aos poucos. Entretanto, isso não significa necessariamente concordar com todas as atitudes e posicionamentos, certo? Certo.

Então, deixem-me fazer um paralelo aqui.

A personagem¹ me lembra um pouco o de Matt Dillon em Crash, aquele policial racista que lutava para conseguir um tratamento para o pai com uma doença terminal. Quem lhe nega isso, entupindo o pedido de burocracia é uma mulher. Negra. Em qualquer outro filme, provavelmente, o personagem iria embora puto – coberto de razão – com a mulher, xingaria Deus e o mundo, mandaria todos para o inferno. A última coisa que ele repararia ou lembraria era a cor da atendente. Porque isso não faz a.menor.diferença.

Existe gente escrota de todas as cores, credos, classes e orientação sexual. É pateticamente óbvio. Eu sei disso, vocês certamente devem saber. Porém, em Crash, eles procuram mostrar os tipos de preconceitos, o lado podre do ser humano. E claro, a consequência de tudo isso. Chamem de karma, se quiserem.

No filme, não é que eles justifiquem Matt Dillon de ser racista. Simplesmente o apresentam e tentam contar pra gente de onde veio esse ódio. Depois de ver, absolvi Dillon? Não, mas o achei interessante enquanto personagem. Sua complexidade.
Seu preconceito é repugnante e a forma como passou a tratar os outros (no caso, os negros) depois do que houve com seu pai é horrível.

Por que comecei explicando isso? Porque se Ashley não fosse bem escrita, sem dúvida eu começaria o texto de um jeito diferente. Sorte dela e nossa. Pois assim como em Crash, Mass Effect procura entregar uma personagem multifacetada ao jogador. Nos diálogos, vemos Ashley Williams recitar lindamente poemas, descobrimos sua religiosidade, seus laços fortes com as irmãs e sua amargura em relação aos alienígenas...

A família de Williams tinha um longo histórico de servir ao exército² e, pela tradição, ela acabou abraçando essa carreira. Nela, há o desejo de limpar o nome de seu avô – também soldado – conhecidíssimo na Alliance por ter sido o primeiro humano a se render a uma força alienígena na Guerra do Primeiro Contato. Isso acabou por manchar o nome dos Williams e atrapalhar as futuras promoções de Ashley em sua carreira como soldado, além de contribuir para a péssima imagem que ela tem de outras raças. Ai, ai, Ashley...

Entenderam meu paralelo?

Apesar de sua inquestionável competência, o talento dela era desperdiçado em postos insignificantes, impedindo-a de ganhar experiência e ascender profissionalmente. Inconformada, a garota se desdobrou para se tornar a melhor das melhores, totalmente dedicada ao seu trabalho. Esse foco, essa vontade de provar seu valor fez de Ashley alguém muito dura. Ela não pensa muito antes de falar e definitivamente tem o pavio curtíssimo. 

Sua história começa a mudar a partir do momento que a encontramos em Eden Prime. Ashley foi a única sobrevivente em meio ao caos que se instalou na área. Quando vemos a situação, é de aplaudir a garota. Eden Prime tinha virado um inferno. Tendo seu potencial reconhecido, ela logo entra para a equipe de Shepard na Normandy e aí podemos conversar finalmente com Williams. 

Ashley se mostra muito desconfortável com a presença de alienígenas na espaçonave e com o tempo descobrimos de onde vem essa desconfiança (como já citei). Ela acha que os humanos não podem esperar uma aliança duradoura da parte dos aliens.

Durante a saga, esse preconceito de Ashley vai sendo...esmaecido e isso é uma das coisas mais legais do game. É muito bom ter a oportunidade de abrir a mente de uma pessoa preconceituosa. Sua (ou seu) Shepard pode influenciá-la positivamente.

Em um dos diálogos – logo quando Liara entra para tripulação da Normandy – Ashley pergunta se Shepard quer que ela tente saber sobre a vida sexual da asari, só pra provocar, já que Liara é tímida e discreta sobre isso. O jogo te dá a opção de negar isso, dando um “chega pra lá” em Williams e explicando que Liara não está acostumada a essas questões. Ela parece depois respeitar Liara, e futuramente até conforta-a quando a asari passa por um momento dificílimo.

Dependendo de suas escolhas e do relacionamento estabelecido com Williams, veremos que ela considerará Tali como uma irmãzinha e diz apoiar se Shepard quiser ter um romance com a quarian

...Not that you needed my approval." – completa a própria Ashley.

Quando reencontra a colega em uma das missões, diz estar feliz por Tali ter voltado para a Normandy. E isso são só algumas cenas que lembro. Há mais. 

Ela poderia ficar presa naquele julgamento do personagem de Matt Dillon, mas, felizmente a Bioware decidiu ir além com ela, propondo algo como: “Hey, aqui está Ashley. Ela é um tanto chata, cabeça-dura e vai te dar algumas dores de cabeça com sua desconfiança perante outras raças...se quiser conhecê-la, quem sabe você possa ajudá-la a ver o mundo de outra forma?” Por isso fiquei gostando de Ashley, curti ver esses pequenos momentos em que presenciamos seu crescimento. 

Como disse lá no começo, definitivamente não concordo com muitas de suas falas e posicionamentos, mas isso não me impediu de achá-la interessante. Quer dizer, quantas personagens de games têm esse nível de desenvolvimento? Quantas fazem o jogador prestar realmente atenção em seus históricos ou refletir sobre o que é certo e errado?

Espero ter sido clara no meu texto sobre a questão do preconceito, dos exemplos que dei e na minha breve análise da personagem.

Quanto ao desenho...
Optei por mesclar o look que ela possuía em Mass Effect 1 (no caso, a armadura) e em Mass Effect 3 (os cabelos soltos). O rosto de Ashley não foi um dos mais fáceis de desenhar e fiquei na dúvida se deixava o cabelo solto... Pois a acho bem mais bonita no primeiro game que no terceiro. O resultado está aí. =)

‘Té mais.

¹ Ambos são interessantes enquanto personagens e tocam em assuntos delicados.
² A Alliance no universo de Mass Effect.